Use crédito apenas em situações de emergência real

O crédito pode ser um aliado poderoso quando usado de forma criteriosa, mas torna-se um peso insustentável quando usado sem necessidade.
Panorama atual do endividamento no Brasil
Atualmente, o Brasil enfrenta uma realidade alarmante: nível de endividamento familiar beira 78% segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Em abril de 2025, 77,6% das famílias brasileiras estavam endividadas e 29,1% tinham contas em atraso, indicando um cenário de crescente vulnerabilidade financeira.
Além disso, renda comprometida com dívidas ultrapassa 27%, o maior percentual desde julho de 2023. Essa alta mostra como uma parte significativa do orçamento mensal das famílias é destina à quitação de dívidas, reduzindo recursos para despesas básicas, investimento e lazer.
Levando em conta a faixa etária, pessoas entre 41 e 60 anos representam 35,1% dos inadimplentes, seguidas por adultos de 26 a 40 anos (34%) e maiores de 60 anos (19,2%). Esse dado evidencia que a crise afeta tanto a força de trabalho ativa quanto aposentados.
O peso dos juros de crédito
Uma das principais causas desse endividamento esbarra nas taxas de juros elevadíssimas praticadas no país. Juros do cartão rotativo são estratosféricos, alcançando 449,9% ao ano em maio de 2025, um dos patamares mais altos no mundo. Nesse ambiente, até pequenas compras no cartão podem se transformar em dívidas quase impagáveis.
O cheque especial também mantém taxas elevadas, com média de 134,7% ao ano, enquanto o crédito consignado varia entre 24,3% e 55,6%, dependendo do perfil do trabalhador. Essa disparidade faz do consignado uma opção mais atraente, mas sujeita a restrições e maior rigor na contratação.
Especialistas alertam que estamos no pior momento para contrair dívidas, pois essas taxas atingiram picos históricos, tornando quase inviável a quitação sem um planejamento rigoroso.
Por que evitar crédito fora de emergências
Quando o crédito é utilizado para despesas rotineiras, criam-se ciclos de endividamento quase impossíveis de quebrar. Pequenos atrasos já geram multas e encargos que aumentam rapidamente o valor original, configurando um verdadeiro efeito bola de neve financeiro.
- Juros altos que disparam o saldo devedor em semanas;
- Risco elevado de inadimplência e restrição ao crédito;
- Comprometimento de objetivos futuros e investimentos.
Além disso, a utilização recorrente de crédito reduz o poder de negociação com instituições financeiras, uma vez que o histórico de atrasos e altas dívidas limita o acesso a linhas mais vantajosas.
Casos aptos para crédito emergencial
Nem todo uso de crédito é condenável: situações de urgência real justificam recorrer a empréstimos ou ao limite do cartão. Nesses cenários, o crédito pode salvar vidas, preservar bens e evitar prejuízos maiores.
- Despesas médicas inesperadas, como internações e tratamentos de emergência;
- Consertos urgentes em casa ou no veículo para garantir segurança;
- Manutenção de fonte de renda, por exemplo capital de giro emergencial para pequenos empresários;
- Perda repentina de renda familiar devido a desemprego ou doença grave.
Antes de contrair, é fundamental analisar se não há recursos próprios para cobrir a necessidade e se a dívida poderá ser paga em prazo razoável, evitando agravar o quadro financeiro.
Estratégias para controlar as finanças
Adotar hábitos saudáveis de gestão financeira é fator decisivo para o endividamento. Um bom ponto de partida é a criação de uma reserva de emergência, equivalente a pelo menos três meses de gastos essenciais.
- Avaliação criteriosa das reais necessidades de crédito;
- Comparação de taxas entre diferentes modalidades antes de contratar;
- Evitar o uso de crédito rotativo e cheque especial para despesas recorrentes;
- Manter um planejamento financeiro atualizado e acompanhar os gastos mensalmente;
- Investir em educação financeira pessoal e familiar.
Ao adotar essas práticas, o consumidor passa a ter maior poder de decisão, evitando armadilhas e conseguindo equilibrar melhor seu orçamento mensal.
Políticas públicas e tendências para 2025
O governo brasileiro tem lançado programas para amenizar a crise de crédito, como o Desenrola Brasil e o FGI PEAC, voltados para renegociação de dívidas e apoio a pequenas empresas. No entanto, mesmo após essas iniciativas, o endividamento familiar voltou a subir, demonstrando que medidas estruturais ainda são urgentes.
Para 2025, a estimativa é de que o índice de famílias endividadas aumente em 2,4 pontos percentuais em relação a 2024, e o percentual de inadimplentes suba 0,5 ponto. Juros altíssimos nas operações de crédito apontam para um cenário de risco contínuo, exigindo maior atenção e educação financeira da população.
Especialistas sugerem reforço em campanhas de conscientização sobre custos reais das dívidas e incentivo a produtos financeiros de baixo custo, especialmente para públicos de menor renda.
Conclusão e chamada à ação
O crédito é uma ferramenta útil, mas que deve ser utilizada com sabedoria e apenas em ocasiões extraordinárias. Ao entender os riscos, taxas e impactos de cada empréstimo, o consumidor se empodera para tomar decisões mais conscientes.
Invista no seu conhecimento financeiro, construa reservas e planeje cada passo. Assim, você estará preparado para enfrentar imprevistos sem comprometer seu futuro e o de sua família.